Resenha: Transmetropolitan Vol. 1 – De volta às ruas, Warren Ellis & Darick Robertson, Panini Comics (Vertigo)

País de Origem: EUA
Período de Publicação: 1997 a 1998
Ano da edição brasileira atual: 2010
Tradução: Fábio Fernandes/FD
Nº de páginas: 146
Edições Originais incluídas: #1 (O verão do ano); #2 (Descendo a ladeira); #3 (Do alto do telhado); #4 (Em campanha); #5 (O que Spider assiste na TV); #6 (Deus vai de carona)
Coleção: Transmetropolitan

Sinopse: Spider Jerusalém é um sujeito… estranho. Tem poucos amigos, odeia pessoas e detesta o mundo em que vive. Tanto que fugiu da civilização e foi se esconder em um buraco bem longe da sociedade degradada e indecente onde vivia. Ele conseguiu ficar relativamente em paz por cinco anos, mas nada dura para sempre, muito menos a tranquilidade.

Forçado a cumprir um compromisso há muito esquecido, o ermitão agora precisa voltar pra civilização. E pior: precisa conseguir um emprego! Mas, já que vai ter que se render e voltar pro mundo que despreza, não será sem um tanto de esperneio. Ele é um jornalista e é muito bom no que faz: abalar as estruturas da sociedade e usar seu trabalho como uma arma apontada pra cara do senso comum! Indo além de seus colegas e turbinado por estimulantes, Spider compra briga com as autoridades, ataca os políticos, a televisão e as religiões. Tudo isso apenas nesta edição! O século 23 nunca mais será o mesmo!

Fonte: http://hotsitepanini.com.br/vertigo/publicacoes/transmetropolitan-vol-1/


MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA

Continuando o meu projeto de ler os melhores quadrinhos da Vertigo (em breve escreverei um post listando-os), resolvi começar a ler esta série, que é uma das mais elogiadas de Warren Ellis (autor de outra consagrada obra, ‘Planetary’). ‘Transmetropolitan – De volta às ruas’ nos apresenta o excêntrico – e bota excêntrico nisso! – jornalista/escritor Spider Jerusalém, que após escrever dois livros sobre sociedade e política, “Acenando e se afogando” e “Tiro na cara”, torna-se uma celebridade e isola-se por cinco anos em uma cabana na montanha, longe de seus fãs – que ele odeia – e do resto do mundo – que ele também odeia.

A HQ já começa com o protagonista, cabeludo e todo tatuado (e com a cara do Alan Moore), atendendo a uma ligação de seu editor que o lembra de seu contrato para escrever dois livros no prazo de um ano. Spider tem que correr contra o tempo e voltar à cidade para escrevê-los, senão será processado e preso. É difícil para ele, um antissocial convicto e violento (literalmente), boca suja, bebedor e fumante inveterado, deixar sua cabana imunda e acolhedora para voltar à convivência com uma sociedade apática, refém da tecnologia e totalmente manipulada pela mídia, propaganda, política e religião. Mas ele acaba saindo da montanha e indo para a cidade em busca de um emprego de freelancer em algum jornal, de um apartamento e de inspiração para escrever.

A história se passa no futuro (século 23), onde a sociedade evoluiu tecnologicamente, mas regrediu em muitos aspectos morais e culturais. A vida humana tem ainda menos valor, a política é ainda mais cínica, a mídia mais manipuladora e mentirosa, o número de religiões e seitas aumentou com infinitas versões de todo tipo de culto, a busca incessante por prazer e pelo consumo atingiu níveis estratosféricos e as pessoas consomem informação reciclada e digerida através dos feeds de notícias (lembra nossas redes sociais, não?). Mas Spider volta para a cidade para cuspir na cara de todo mundo as verdades por trás de toda aquela podridão, sem usar meias verdades, sem afagar egos e se preocupar em pisar em todos os calos. Não que ele não seja um filho da puta escroto também, mas ao menos é um escroto comprometido com a verdade pura, doa a quem doer. Ele não usa falsos moralismos. Mas também não usa eufemismos.

A obra é cheia de crítica social, mas sem fazer panfletagem chata. Não tem uma página, um quadro sequer que não seja divertido pra cara***. Mas essas críticas nos fazem refletir sobre a nossa sociedade atual e sobre o rumo que ela está tomando. É como se Ellis projetasse nosso futuro – um futuro possível, tragicômico e assustador. Ultraviolência, palavrões, sexo e toda sorte de escrotidão recheia as páginas da HQ, mas curiosamente isso não imprime um tom “pesado” à obra - graças ao Spider. E embora o jornalista seja o foco da história e de toda a narrativa, Ellis criou outros bons personagens como o editor do jornal ‘Word’, o velho amigo de Spider que se tornou transiente e fundou um movimento de mudança de espécie (de humana para alienígena), sua assistente e um gato esquisito e feio pra caramba que ele adota.

Uma das coisas mais sensacionais do quadrinho - além do seu caráter de ficção científica cyberpunk – é a quantidade de referências que o autor faz, como na edição #6 em que Spider vai à feira de religiões e seitas e há stands das igrejas de Elvis Presley e do pastor Jesse Custer, o protagonista de ‘Preacher’ (Garth Ennis & Steve Dillon). Outro ponto alto é a forma de Spider fazer jornalismo, que é também uma crítica ao jornalismo bunda-mole que é feito hoje em dia, com meios de comunicação extremamente tendenciosos e controlados por mega corporações e grupos políticos, comprometidos apenas em manipular informações e subverter a opinião pública.


DESENHOS


Esta é a primeira vez que confiro os traços de Darick Robertson, e eles me agradaram muito. A arte é suja e o artista desenha muito bem o ambiente urbano decadente e tecnológico da HQ, utilizando cores fortes e expressões faciais ora apáticas, ora cheias de puro cinismo. A caracterização do próprio Spider chama a atenção e é estranhamente apropriada para o seu temperamento. Os enquadramentos constroem uma narrativa gráfica que conta a história com maestria, mesmo à parte dos balões de fala, e imprimem um ótimo ritmo de leitura à obra.






VEREDITO


Trata-se de obra excelente de Warren Ellis, que sabe como ninguém fazer uma boa ficção científica. HQ divertidíssima, questionadora, maluca e exagerada, mas com uma história relevante e adulta, ‘Transmetropolitan – De volta às ruas’ é o começo da saga de um dos melhores personagens que vi nos últimos tempos, e me deixou ansiosa para ler os próximos volumes.
Leitura imperdível!

Nota:
5/5


Obs.:
1. Este primeiro volume está esgotado nas comic shops, mas a Panini prometeu reimprimi-lo ainda este ano. Vamos aguardar!

2. A obra completa sairá em seis volumes pela Panini.

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