Resenha Combo: Saga, Brian K. Vaughan & Fiona Staples, Devir (Image Comics)
Período
de publicação: março de 2012 a maio de 2015
Tradução:
VON DEWS (Vertigem HQ)
Edições
originais incluídas: #1 a #28
Coleção:
Saga
Sinopse:
Publicada originalmente como uma série mensal pela Image Comics, a série é
fortemente influenciada por Star Wars, Flash Gordon e em ideias concebidas por
Vaughan desde quando ele ainda era criança (o autor revelou que a base da
história foi criada durante as aulas de Matemática, que ele odiava!).
Frequentemente
comparada pela crítica especializada como um “encontro entre Star Wars e A
Guerra dos Tronos”, SAGA nos conta a história de Alana e Marko, dois soldados
de lados opostos numa longa e devastadora guerra intergalática que se apaixonam
e lutam para garantir que Hazel, sua filha recém-nascida, continue viva. Mas é
claro que isso não será nada fácil... Curiosamente, o bebê também narra a
história!
Muitos
críticos também reconhecem influências de O Senhor dos Anéis e Romeu e Julieta
num rico cenário de ficção científica e fantasia. Seu primeiro arco de
histórias foi bastante elogiado e publicado pela Image num só volume em outubro
de 2012, ficando na frente de campeões de venda como, por exemplo, The Walking
Dead, e vendendo 120 000 exemplares! Um sucesso estrondoso!
MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA
‘Saga’
é uma série mensal de quadrinhos ainda em andamento (até esta data, está na
edição #30), escrita pelo jovem e aclamado roteirista Brian K. Vaughan, autor
de outras obras de sucesso entre público e crítica como ‘Y – O último homem’,
‘Os leões de Bagdá’ e ‘Ex Machina’. Começou a ser publicada em março de 2012
pela Image Comics®, e já
faturou os principais prêmios da indústria como Eisner Awards (nas categorias melhor nova série, série em
andamento, roteirista e artista), Harvey
Awards, Hugo Award e o British Fantasy Award. Além disso, os
dois primeiros volumes ficaram na lista das 10 graphic novels mais vendidas nas comic shops americanas em 2013.
Ao
ler a sinopse da obra, o plot pode
parecer muito simples, e clichê: um amor proibido entre duas pessoas de povos
diferentes (que se odeiam e batalham entre si), dispostos a lutar contra tudo e
todos por esse amor e pelo fruto dele, a filha deles. Mas essa sinopse nem de
longe faz jus à obra. ‘Saga’ tem sido comparada a muitas grandes obras como ‘Star Wars’, ‘Game of Thrones’, ‘Star Trek’
e ‘The Lord of the Rings’. Isso
porque Vaughan criou uma ópera espacial com elementos futurísticos como naves
espaciais, ciborgues e androides, misturado à fantasia, raças exóticas (totalmente
diferentes do que você poderia imaginar), planetas exóticos, costumes estranhos
e magia.
E
enquanto acontece uma guerra entre dois mundos – os planetas natais dos
protagonistas, Alana e Marko -, que é terceirizada para outros planetas, há uma
grande saga paralela que não é tão grandiosa quanto a guerra, mas é bastante
nobre: uma família tentando se proteger de tudo o que quer destruí-la. Como diz
a própria narradora (que é Hazel, a filha de Alana e Março) em um capítulo bem
mais a frente, “depois que uma família é formada, ela nunca deixa de estar sob
ataque”.
Hazel
narra a história já adulta, a partir do futuro, mas não sabemos o quão distante
esse futuro está. A sua narração dá um tom nostálgico e às vezes triste e terno
ao roteiro. Os diálogos são leves e soam naturais, principalmente os travados no
núcleo familiar dos protagonistas. Vaughan estava sendo pai de primeira viagem
quando começou a escrever o quadrinho, e intencionalmente imprimiu à obra sua
experiência familiar. Isso deu muito certo. Apesar de possuir protagonistas, há
vários núcleos paralelos e sub-tramas recheadas de personagens complexos,
interessantes e que causam certa estranheza – o que é bom para o leitor, nesta
época recheada de histórias recicladas e de HQs de super-heróis bonachões e sem
personalidade.
Mas
‘Saga’ não se trata apenas de uma aventura muito divertida e encantadora – o que
ela deveras é. Nas entrelinhas, o autor trata de assuntos delicados como liberdade
sexual, xenofobia, racismo, política, casamento, feminismo, homossexualidade, entre
outros. O leitor não é poupado de cenas de violência, ou de cenas de sexo entre
pessoas do mesmo sexo, entre robôs com cabeça de televisão (!) e até de
espécies diferentes: o personagem ‘O querer’, um dos mais interessantes da
série, é apaixonado por uma das vilãs da trama. Ambos são mercenários que encontram e matam foragidos por
dinheiro e estão atrás de Alana, Marko e Hazel. Só que há um pequeno detalhe:
ele é um homem, ela é metade mulher e metade aranha.
Essas
seis primeiras edições são sensacionais, e introduzem o leitor a esse universo
tão complexo de forma natural e fluida. A leitura é muito gostosa e divertida, eu
não vi o tempo passar. A cada virada de página fui surpreendida DE VERDADE,
como há muito tempo não era lendo alguma coisa. Você lê uma página cheia de
ternura, vira e dá de cara com uma cena de sexo exótica, vira e dá de cara com um
arroubo inesperado de violência. Mas não se engane: ‘Saga’ não é uma bagunça
narrativa, é uma intricada e complexa sinfonia brilhantemente orquestrada por
Brian K. Vaughan.
DESENHOS
Fiona
Staples é a desenhista, arte-finalista, colorista e capista da série, trabalho
que rendeu a ela os Eisner Awards de 2014
e de 2015.
Ela cumpre todos os quatro papéis com maestria. Seu traço estilizado e muito
preciso é lindo. Staples é boa desenhando homens, mulheres, animais, máquinas,
robôs, armas, planetas, etc e etc. Segundo o próprio Vaughan, ela foi a responsável
pelo design dos personagens e dos ambientes, objetos e mundos. Mas, além do
lindo traço, as cores que Staples imprime à série são de tirar o fôlego: muito
vivas e tão exóticas quanto a história. O jogo entre luz e sombra e entre cores
claras e escuras dá profundidade às cenas. E as capas são um caso à parte: as
mais bonitas que já vi na vida (foi mal, Brian Bolland e Homem-Animal).
Com capas assim fica impossível alguém ir à comic
shop e não comprar a HQ.
VEREDITO
‘Saga’
é uma série vencedora de inúmeros Eisner
Awards, inclusive o deste ano de 2015 na categoria ‘melhor série contínua’.
Ela é diferente de tudo o que já vi e li, incrivelmente divertida, graficamente
impecável, bonita de encher os olhos, adulta e com vários momentos que nos
levam à reflexão. Provavelmente é a melhor série em andamento, já tendo nascido
para se tornar um clássico da nona arte, além de ter alçado à fama Fiona Staples, uma desenhista brilhante.
Esta é uma daquelas obras que você lê e começa a recomendar para o primo, o
carteiro, a chefe, os amigos, o professor, e o resto do mundo.
Imperdível!
Nota:
5/5
Obs.:
1.
Segundo Brian K. Vaughan, ‘Saga’ será uma série longa, sem data para terminar.
2.
A Devir provavelmente vai demorar uma eternidade para lançar os encadernados
aqui (além de o preço de capa ser alto, R$ 59), sendo que o quarto já saiu nos EUA enquanto
o segundo talvez seja lançado este ano no Brasil. Por isso, se você sabe
inglês, indico que compre os encadernados americanos na Amazon, Livraria Cultura ou Book
Depository, ou as edições digitais no Comixology.
Caso não leia em inglês e esteja pirando para ler a continuação da série, o
site Vertigem HQ está traduzindo e disponibilizando com um delay de apenas uma edição (em maio saiu a edição #30 nos EUA e
o Vertigem já disponibilizou a #29).
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