Resenha: Até o dia em que o cão morreu, Daniel Galera, Companhia das Letras

País de Origem: Brasil
Ano da edição brasileira atual: 2007
Nº de páginas: 104

Sinopse: Depois de alugar um apartamento vazio no centro de Porto Alegre, um homem de cerca de 25 anos gasta os dias olhando a cidade pela janela, bebendo cerveja e caminhando pela vizinhança. Até que um cachorro aparece em sua porta, e uma modelo chamada Marcela entra em sua vida.

O impasse do narrador também tem um caráter particular: a dificuldade de escolher entre um cotidiano cheio de privações, mas sem riscos emocionais, e as possibilidades infinitas dos afetos. É aí que o mundo se torna mais complexo e interessante. É aí, também, que as paixões cobram seu preço.

Com um estilo minimalista e em algumas passagens virtuosístico, Galera conduz o leitor com um vagar nada gratuito: em suas pequenas acelerações e grandes pausas, é como se Até o dia em que o cão morreu reproduzisse o tempo interno do seu personagem - a lenta evolução, quase despida de acidentes, até que suas certezas iniciais comecem a esmorecer. As últimas páginas, narradas por Marcela, iluminam com sutileza o instante em que tudo pode estar prestes a mudar. É então que, numa história tão marcada pelo signo da morte, a vida enfim dá o ar de sua graça.




MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA


Este foi o primeiro romance e segundo livro de Daniel Galera (o primeiro foi uma coletânea de contos), escrito quando o autor tinha apenas 23 anos e publicado em 2003 pela editora que ele mesmo fundou, ‘Livros do mal’. Em 2006 Galera foi para a Companhia das Letras com a publicação de ‘Mãos de Cavalo’, e a editora republicou ‘Até o dia em que o cão morreu’.

A minha leitura das obras de Galera foi na ordem da mais recente para a primeira. E essa, de certa forma, foi uma forma interessante e inusitada de acompanhar a evolução do autor. Neste livro, percebe-se que a maturidade da escrita já estava ali, mesmo que o escritor tivesse apenas 23 anos – minha idade – ao criá-lo. A sutileza de algumas descrições (como a da vista no apartamento do protagonista ou da beleza da Marcela) contrastando com a crueza da descrição do ato sexual, por exemplo; a construção psicológica dos personagens secundários, que se dá lentamente para, de repente, explodir em um rompante de revelações nada triviais; e os objetos, seres (neste caso, um cão) e paisagens que são sempre símbolos de emoções, valores e mudanças de paradigma para o protagonista.

Aliás, Galera sempre escreve sobre mudanças e sobre pessoas que saíram de sua zona de conforto para viver uma nova vida, seja de forma deliberada e abrupta (como em ‘Cordilheira’), ou como resultado de um longo processo de autoconhecimento e descoberta de novas facetas do mundo (como em ‘Mãos de cavalo’).

‘Até o dia em que o cão morreu’ é uma leitura rápida, agradável e cheia de camadas, mesmo em sua simplicidade. Fala sobre a apatia diante da vida e as difíceis escolhas das novas gerações, que vivem perdidas em um mar de possibilidades, sendo que muitas vezes não agarram nenhuma; sobre a construção da intimidade entre duas pessoas, principalmente quando uma delas é “fechada” e difícil; sobre o que é sucesso, o que significa ser bem-sucedido e a busca incessante por; e sobre como o distanciamento emocional e a fuga podem ser insustentáveis para uma pessoa.


VEREDITO


Uma obra madura escrita por um jovem escritor em começo de carreira; que alterna momentos frenéticos com outros de extrema placidez; que soa crua e quase ofensiva mas também poética; fácil e rápida de ler e difícil e complexa de absorver. ‘Até o dia em que o cão morreu’ é esse pequeno caleidoscópio e poço de contradições que se completam para formar um livro que vale muito a pena ser lido, como qualquer obra que Daniel Galera tenha escrito. Eu simplesmente me tornei fã do escritor.

Recomendado!

Nota:
4/5



Resenhas de outras obras de Daniel Galera:

Cordilheira

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