Resenha: Fashion Beast – A fera da moda, Alan Moore, Malcolm McLaren, Antony Johnston & Facundo Percio, Panini Comics (Avatar)

País de Origem: EUA
Ano da publicação original: 2012
Ano da edição brasileira atual: 2014
Tradução: Eduardo Tanaka
Nº de páginas: 272
Edições Incluídas: Fashion Beast #1 a #10


Sinopse: Doll está insatisfeita com sua vida de recepcionista de guarda-volumes em uma boate. Mas quando ela é demitida do trabalho e se iniciam os testes para modelo de um recluso estilista, um caminho de glamour que ela sempre sonhou se abre bem à sua frente.


No entanto, nem tudo são rosas. Logo Doll descobre que o salão de Celestine é tão disfuncional quanto as roupas que as classes menos abastadas vestem neste mundo distópico.


Fonte: http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/fashion-beast-a-fera-da-moda/fa011107/108858

MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA

Moda é, segundo a Wikipedia, “a tendência de consumo da atualidade. A palavra moda significa costume e provém do latim modus. É composta de diversos estilos que podem ter sido influenciados sob vários aspectos. Acompanha o vestuário e o tempo, que se integra ao simples uso das roupas no dia-a-dia. É uma forma passageira e facilmente mutável de se comportar e sobretudo de se vestir ou pentear”. Além disso, “a moda é abordada como um fenômeno sociocultural que expressa os valores da sociedade - usos, hábitos e costumes - em um determinado momento; [...] é um sistema que acompanha o vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um contexto maior, político, social, sociológico”.

Foi com esse conceito de moda em mente que Alan Moore (V de Vingança, Watchmen, A Saga do Monstro do Pântano) resolveu trabalhar, na década de 80, em um roteiro para o cinema com Malcolm McLaren – empresário da banda Sex Pistols -, em uma recontagem moderna e distópica do clássico conto “A bela e a Fera”. O filme não saiu da gaveta, mas em 2012 a história foi adaptada para os quadrinhos por Antony Johnston, com arte de Facundo Percio.

Comprei a HQ na banca por causa do nome ‘Alan Moore’ estampado na capa. Sim, eu respeito esse nome. A expectativa, por causa disso, foi às alturas. Mas a obra correspondeu.

Aqui Moore nos brinda com a sua incrível capacidade de escrever sobre o fim do mundo, o caos, a guerra e a capacidade humana de criar e se rebelar, de tantas formas diferentes, diante da opressão – seja ela em forma da rotina asfixiante, do medo, da fome, do desamor. Moore usa o assunto moda como plot para tratar desses temas. Mas é claro que a moda não significa nada na história. O barbudo inglês nos faz constatar que a moda externaliza, dia após dia, os valores da sociedade e sua visão política, afetiva, ideológica. É tão importante que basta pensarmos nos gregos, nos romanos, nos monges budistas, nas mulheres mulçumanas, nos samurais, nos vitorianos, nas tribos africanas e em quaisquer outros contextos históricos e povos que perceberemos que o modo de se vestir é a representação concreta e última do que o ser humano acredita – ou do que o obrigam a acreditar.

A narrativa de Alan Moore – mesmo tendo sido adaptada por outro escritor – é brilhante como sempre, muito precisa e ao mesmo tempo suave, fluida e cheia de nuances. É preciso ler com atenção para não perder nenhum detalhe. Acredite, os pequeninos detalhes na obra desse mestre da narrativa gráfica sempre são muito importantes para o todo.

‘Fashion Beast’ é uma história curiosa e estranha, do jeito que eu gosto. É profunda, mas ao mesmo tempo acessível, e muita divertida também. Não pode ser comparada a outras grandes obras do autor, mas isso não significa que não seja acima da média.

DESENHOS

A arte de Facundo Percio (que eu nunca havia ouvido falar até então) é o ponto alto do quadrinho. Ele conseguiu retratar muito bem a Doll como uma personagem andrógina e, ao mesmo tempo, muito feminina. As caras e bocas que ela faz são demais! Além disso, o clima urbano e desolador da cidade; o contraste entre a sujeira e degradação das ruas e o luxo das criações de Celestine; a noção de profundidade e movimento ao retratar a Doll caminhando pelas calçadas, dançando ou desfilando; e o jogo de luz e sombra no antro de Celestine são fenomenais.






VEREDITO

Deixe esse preconceito de lado com o título da HQ, a obra não é nada superficial e cheia de frescurinhas. Vale muito à pena ser lida e certamente foi uma maneira surpreendente e inusitada de recontar um conto clássico infantil. A arte é muito competente e o argumento usado pelo genial Alan Moore, como sempre, é capaz de fazer o leitor enxergar muitas coisas no mundo e em si mesmo que ele não via antes.

Recomendadíssima!

Nota:
4/5




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