Resenha: Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, Editora Globo
Distopia é o meu gênero literário favorito. Os
livros que mais gostei de ler até hoje, como “Ensaio sobre a cegueira” (José
Saramago), “1984” (George Orwell), “Não verás país nenhum” (Ignácio de Loyola Brandão”,
incluindo o recente “Jogos Vorazes” (Suzanne Collins), ou mesmo filmes como Laranja
Mecânica (Stanley Kubrick) e a HQ "V de Vingança" (Alan Moore), integram o gênero. Mas eu ainda não havia lido o
magistral “Admirável Mundo Novo”, que é considerado um dos livros mais
influentes do século XX e um clássico indiscutível. Na verdade, na época do
ensino médio eu cheguei a começar a leitura, mas empaquei. Acho que é porque eu
não tinha maturidade suficiente para entendê-lo.
Sinopse: Ano 634 df (depois de Ford). O Estado científico totalitário zela por todos. Nascidos de proveta, os seres humanos (precondicionados) têm comportamentos (preestabelecidos) e ocupam lugares (predeterminados) na sociedade: os alfa no topo da pirâmide, os ípsilons na base. A droga soma é universalmente distribuída em doses convenientes para os usuários. Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem crime.
Os conceitos de "pai" e "mãe" são meramente históricos. Relacionamentos emocionais intensos ou prolongados são proibidos e considerados anormais. A promiscuidade é moralmente obrigatória e a higiene, um valor supremo. Não existe paixão nem religião. Mas Bernard Marx tem uma infelicidade doentia: acalentando um desejo não natural por solidão, não vendo mais graça nos prazeres infinitos da promiscuidade compulsória, Bernard quer se libertar. Uma visita a um dos poucos remanescentes da Reserva Selvagem, onde a vida antiga, imperfeita, subsiste, pode ser um caminho para curá-lo. Extraordinariamente profético, "Admirável Mundo Novo" é um dos livros mais influentes do século 20.
Fonte: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/2659802/admiravel-mundo-novo-ed-de-bolso
Aldous Huxley é um mestre da ficção. Prende o leitor na sua forma de escrever que é simples e sofisticada ao mesmo tempo. Mas o que mais chama a atenção na obra é o brilhantismo de sua concepção de um futuro que, se refletirmos, hoje já não parece tão distante. Neste admirável mundo novo, o governo encontra outras formas, muito mais sutis e eficazes, de exercer o totalitarismo. As pessoas são condicionadas, manipuladas e levadas a crer que estão apenas cumprindo o seu papel e que a única forma de serem felizes é seguindo 'as regras do jogo'.
Esse mesmo governo usa a Ciência como meio para atingir seu objetivo. Cria um sistema de castas eficaz, visto que os indivíduos são condicionados, desde antes de seu nascimento, ao papel que exercerão na sociedade. E toda a forma de agir do governo torna-se natural para todos. Se alguém se sentir infeliz, é só tomar uma boa dose de soma - uma espécie de droga para a felicidade - que tudo voltar a parecer perfeito.
Bernard Marx é o personagem principal do livro, alguém que começa a questionar, para si mesmo, o sistema. Ele quer poder exercer sua individualidade (que é proibida). Está cansado das frivolidades das pessoas com quem convive e de quão rasas são suas relações. Ele quer poder ser um homem comum.
Abaixo, alguns trechos super interessantes da obra:
"Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciar o destino social a que não podem escapar".
"Os deuses são justos. Sem dúvida. Mas o seu código de leis é ditado, em última instância, pelas pessoas que organizam a sociedade".
"Deus não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal. É preciso escolher. A nossa civilização escolheu as máquinas, a medicina e a felicidade".
"Um estado totalitário verdadeiramente eficiente será aquele em que o todo-poderoso comitê executivo dos chefes políticos e o seu exército de diretores terá o controle de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão".
"As cunhas redondas nos buracos quadrados possuem tendência para ter ideias perigosas acerca do sistema social e para contaminar os outros com o seu descontentamento".
"Admirável Mundo Novo" influenciou - e continua influenciando - inúmeras obras distópicas por aí. As mais recentes que posso citar são "Feios", de Scott Westerfeld, e "Divergente", de Verônica Roth. São livros que trabalham com a ideia de um governo totalitário que, como diz Huxley, consegue fazer com que as pessoas tenham "amor à sua servidão". Não são como o Big Brother de "1984" de Orwell, que reprime e governa através do medo. Nesses livros o totalitarismo se dá por meio da manipulação. E eis aí o grande perigo.
Na verdade, ao terminar de lê-lo, tive a sensação de que podemos estar a caminho desse futuro distópico. Hoje somos manipulados, sutilmente, pelo governo, pela mídia, pela religião. E a tecnologia, que deveria ser usada unicamente para nosso favor, nos tornou reféns: caminhamos para um tempo em que seremos todos viciados em internet, em aparelhos descartáveis mas que consideramos fundamentais (somos levados a crer nisso), em tudo o que é artificial. Estamos caminhando para uma era em que as relações interpessoais se extinguirão, basta ver o quanto a monogamia, a família (seja ela de que formato for, mas que seja família) e o afeto estão sendo sufocados pela busca do prazer a qualquer custo e pela facilidade das relações artificiais e descartáveis. E tenho muito, muito medo disso.
Recomendo para qualquer um este livro, que certamente não pode faltar na estante de um bom amante da Literatura.
Nota:
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Até a próxima!
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