John Green e novos leitores

Até hoje li apenas dois livros do John Green: “Will & Will” (escrito em parceria com David Levithan, não me agradou) e “Quem é você, Alasca?” (muito bom). Não sou fã nº 1 do cara, mas reconheço seu talento, que se não é extraordinário, é acima da média em alguns momentos.

Capas de todos os livros do John Green
Reconheço o bem que as obras desse escritor têm feito para uma nova geração de leitores que está começando a ler por causa de “A culpa é das estrelas”. Nos anos recentes percebi que os jovens no Brasil estão lendo mais (embora nem todos, ler ainda não é um hobby comum entre os brasileiros de todas as faixas etárias, como deveria ser). Os filmes baseados em histórias escritas para adolescentes e jovens adultos têm feito a moçada correr atrás das obras originais e consumir mais livros. Adaptações para o cinema como Harry Potter, Crepúsculo, Jogos Vorazes, Divergente, A menina que roubava livros e A culpa é das estrelas são exemplos disso.

Ou seja, esses livros de leitura mais fácil e que dialogam muito bem com os jovens de hoje e suas ideias são excelentes portas de entrada para o mundo da Literatura. Em um vídeo que vi recentemente no Youtube, um cara extremamente truculento diz que todos os que gostam dos livros do John Green são “adolescentes histéricos e sem bagagem literária”. Discordo dele. Eu li “Quem é você, Alasca?”, e adorei. Leio também José Saramago, George Orwell e Dostoievski. Não sou uma adolescente, muito menos histérica. Como dizem por aí, toda generalização é burra.

Em “Quem é você, Alasca?” os personagens citam livros clássicos (como o “General em seu labirinto”, de Gabriel García Márquez), poemas e frases marcantes de grandes autores e personagens históricos, e isso com certeza incita os jovens a ler obras que, talvez, eles jamais teriam o interesse, não fosse pelo modo informal e divertido pelo qual lhes foram feitas as sugestões. O método da escola de “obrigar” os alunos a lerem clássicos é um tiro no pé, e causa muito trauma e aversão a essas obras e à leitura em geral.

"O general em seu labirinto", clássico de Gabriel García Márquez citado várias vezes no livro de John Green

Para quem não tinha qualquer hábito de leitura, o fato de começar a ler um livro – que seja “A culpa é das estrelas”, que seja “Crepúsculo” – já é o primeiro passo para se tornar um leitor assíduo e ir em busca de uma Literatura mais sofisticada. Em “Crepúsculo”, por exemplo, os personagens citam “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Bronte, e “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, clássicos indiscutíveis da Literatura Mundial. E sei de jovens que leram esses clássicos por causa da saga vampiresca. Discordo do grande Mark Twain quando diz que "aquele que lê maus livros não leva vantagem sobre aquele que não lê livro nenhum". Ler, mesmo que seja um best-seller, exercita a inteligência, a concentração, melhora a escrita, aumenta o vocabulário e o conhecimento a respeito de cultura em geral.




É claro que temos que ter em mente que ler “50 tons de cinza” não vai somar na sua vida o que “Crime e Castigo” vai. Pode acreditar nisso. Mas pode ser apenas uma forma de entretenimento, e isso é válido. No entanto, por favor, não se atenha a ler apenas livros com conteúdo raso. Leia os clássicos, leia autores consagrados, gradativamente vá lendo livros mais “difíceis”. Provavelmente serão esses os que você jamais esquecerá na sua vida.

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