Resenha: Sandman – Edição Definitiva Vol. 1, Neil Gaiman, Panini Comics (Vertigo)
Ano
de Publicação: 1989 a 1990
Ano
da edição brasileira atual: 2010
Tradução:
Jotapê Martins
Nº
de páginas: 618
Coleção:
Sandman – Edição Definitiva
Arcos
Incluídos: Prelúdios e Noturnos - #1 a
#8; A casa de bonecas - #9 a #16; Sandman – Terra dos sonhos - #17 a #20.
Histórias
Incluídas: #1 - O sono dos justos, #2 -
Anfitriões imperfeitos; #3 - Sonhe um breve sonho comigo; #4 - Uma esperança no
inferno; #5 - Passageiros; #6 - 24 horas; #7 - Som e fúria; #8 - O som de suas
asas; #9 - Contos na areia; #10 - Casa de bonecas; #11 - Mudança; #12 - Brincando
de casinha; #13 - Homens de boa fortuna; #14 - Os colecionadores; #15 - Noite
adentro; #16 - Corações perdidos; #17 - Calíope; #18 - Um sonho de mil gatos;
#19 - Sonho de uma noite de verão; #20 - Fachada.
Sinopse: “Vou
revelar-te o que é o medo
num punhado de pó.”
Foi essa frase de T.S. Eliot que
serviu para embalar o lançamento dessa série e também dar asas a imaginação de
Neil Gaiman, um britânico destinado a criar uma das séries mais revolucionárias
e inovadoras dos quadrinhos contemporâneos.
Poucas HQs na história do mundo ocidental
transcenderam o gênero e romperam barreiras como Sandman conseguiu. Mesclando mitologias
modernas e fantasia sombria, além de acrescentar elementos modernos, históricos
e míticos, Sandman foi considerada uma das séries mais
artisticamente ambiciosas dos quadrinhos. Quando foi concluída, em 1996, já
tinha mudado a nona arte para sempre e se tornado um fenômeno de cultura pop, bem como um marco das HQs, tornando
difusa a fronteira imaginária entre os quadrinhos de massa e o que consideramos
como arte.
A série conta a história de Morfeus,
um dos Perpétuos — criaturas análogas aos deuses, mas ainda maiores —
responsável pelo Mundo dos Sonhos. Basicamente ele controla e tem acesso a
todos os sonhos da humanidade e de todas as criaturas capazes de sonhar, sendo
o senhor do Mundo dos Sonhos, a terra aonde vamos em nossas horas de sono.
Quando uma ordem mística tentou
capturar a irmã de Sonho, a Morte, em seu lugar eles capturaram Morfeus.
Assustados com o que conseguiram, os membros da ordem o mantiveram cativo. E
assim teve início um período de diversas décadas em que esse Perpétuo ficou
trancafiado à mercê de seus captores, deixando o Mundo dos Sonhos abandonado e
os sonhadores desamparados. A série nos revela como ele se libertou e como foi
capaz de se adaptar no mundo após tantos anos de ausência, e também nos mostra
um vislumbre de sua história e da mitologia dos Perpétuos.
MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA
No
final dos anos 80, após o estrondoso sucesso de Alan Moore com o Monstro do Pântano, a DC Comics foi
atrás de outros roteiristas britânicos para integrar seus quadros e dar vida
novamente a personagens da editora que estavam no limbo – como Moore fez. Esse
movimento foi chamado de ‘Invasão Britânica’. Além de Moore, Grant Morrison,
com Homem-Animal, Jamie Delano, com Hellblazer e Neil Gaiman, com
Sandman, formaram os pilares para a criação do selo de quadrinhos adultos Vertigo. Neil Gaiman era um jovem
escritor cheio de novas ideias e recebeu carta branca dos editores para
ressuscitar o personagem Sandman (Wesley Dodds), um vigilante mascarado sem
superpoderes da Sociedade da Justiça (ele usava um sobretudo, chapéu, uma máscara de gás e uma arma
que dispara gás do sono para sedar os criminosos), e dar a ele nova roupagem.
Wesley Dodds, o Sandman original da DC Comics |
Gaiman
escolheu a fantasia e a mitologia americana como panos de fundo de suas histórias.
A série completa ganhou 26 prêmios Eisner (incluindo os spin-offs), sendo três de melhor série em andamento e quatro de
melhor escritor. Somam-se ainda os prêmios Bram Stoker de melhor narrativa
ilustrada e o do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême. Tornou-se
um fenômeno e, em todas as listas respeitáveis que apresentam os melhores quadrinhos de todos os tempos, figura
no mínimo entre as dez primeiras posições, ocupando, frequentemente, a primeira
ou segunda posição.
O
Sandman do folclore, no qual Gaiman se inspirou, é o guardião dos sonhos,
responsável por trazer os sonhos para as crianças durante a noite enquanto elas
dormem, através da aspersão de uma espécie de areia mágica em seus olhos. Dizem
que aquela “areinha” que encontramos em nossos olhos de manhã ao acordar é
resultado de sua obra. O roteirista, no entanto, fez algumas adaptações na
lenda para utilizá-la em sua grandiosa obra.
Sandman (Morfeus): misteriosa entidade dos sonhos. Ele possuía uma revista de história em quadrinhos adulta, sucesso de crítica e público. Foi criada por Neil Gaiman em 1988 para o selo Vertigo da Editora DC Comics. Suas histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do Sonhar (o mundo dos sonhos) e sua interação com os homens e outras criaturas (que também é conhecido como Morpheus, Sandman, Oneiros, Oniromante e Lorde Moldador, entre outros nomes). Ele é um Pérpetuo - os Perpétuos são manifestações antropomórficas de aspectos comuns a todos os seres vivos: Destino, Desencarnação (ou Morte), Devaneio (ou Sonho), Destruição, Desejo, Desespero e Delírio. É um herói nobre, trágico, no estilo tradicional dos heróis da tragédia grega. Às vezes parece insensível, outras meditativo, mas invariavelmente melancólico. Já seu lado mais racional está sempre ciente de suas responsabilidades, tanto para com as pessoas comuns, quanto para aqueles de suas terras. Compartilha de uma ligação recíproca de dependência e de confiança com sua irmã mais velha, a Morte. Ele se esforça vigorosamente em compreender sua natureza e a dos outros Perpétuos. Fonte
Versão de Brian Bolland para o Sandman de Neil Gaiman |
Neste
primeiro volume, que inclui as edições #1 a #20, o leitor descobre que o Rei do
Sonhar foi preso por bruxos que o invocaram sem querer quando tentavam invocar
sua irmã Morte. E quando Morpheus sai para tentar recuperar seus objetos
mágicos que foram roubados e seu reino, começa a se desenvolver o grande plot da história. No entanto, é válido
observar que, em todo o volume – e ao longo de toda a série -, existem
histórias dentro de histórias, em um multiverso de lendas, personagens
(incluindo Shakeaspere), fantasias e
simbologia que formam quadros ora muito poéticos, ora aterrorizantes (como no
arco ‘A casa de bonecas’, o melhor do volume), ora aventurescos, e etc. Gaiman
molda a realidade e as histórias como um oleiro muito habilidoso. Posso afirmar
que ler Sandman é uma experiência sem comparação.
DESENHOS
Os
desenhos foram feitos por vários artistas, sendo eles: Sam Kieth (arte edições
# 1 a # 5); Mike Dringenberg (arte # 6 a # 11 e # 14 a # 16), Chris Bachalo (#
12), Michael Zulli (# 13), Kelley Jones (# 17 e # 18), Charles Vess (# 19) e
Colleen Doran (# 20). As capas de todas as edições da série foram feitas pelo
renomado artista Dave McKean (‘Asilo Arkham’). Sujos, poéticos e amedrontadores
nos momentos em que devem ser, os desenhos demonstram que apesar de vários artistas diferentes terem trabalhado
com Gaiman, que o autor
atuou como um maestro na condução da narrativa gráfica da obra.
VEREDITO
Meu
veredito não poderia ser diferente: absolutamente genial! A edição #4, ‘Uma
esperança no inferno’, é uma das melhores coisas que eu já li na minha vida. Gaiman
sempre figurará no rol dos escritores que provaram para o mundo que as HQs não
são apenas para crianças, e Sandman será sempre lida como uma das melhores
obras produzidas no âmbito da Literatura do século XX (quiçá de todos os
tempos).
Genial e obrigatória!
Nota:
5/5
*Na
data deste post, a edição encontra-se esgotada. No entanto a Panini a reimprime
de tempos em tempos. Sugiro que você a adquira. Além de ser extremamente bonita
e ter sido impressa em papel couché, possui extras com algumas
notas e histórias de bastidores (a proposta da série feita em 1987 com esboços
de Sam Kieth, de Dave McKean e do próprio Gaiman e algumas informações sobre as
primeiras edições), e o roteiro acompanhado pela arte não finalizada da
emblemática edição 19, ‘Sonhos de uma noite de verão’.
Comentários
Postar um comentário
O seu comentário é muito importante para mim, e gostaria de pedir dois pequenos favores: 1º procure não comentar como anônimo, porque gosto de saber quem são meus leitores e gosto de poder interagir com eles; e 2º respeite a opinião dos outros, porque eu respeito muito a sua.